sábado, 5 de maio de 2012

Verticalização em SP irá saturar meio ambiente, diz ativista


No futuro, a capital paulista poderá ser mais poluída, barulhenta, mais quente e intensamente verticalizada. Esse quadro ainda pior do que os paulistanos vivem na atualidade pode se tornar realidade se a prefeitura da capital paulista colocar em prática alguns conceitos em discussão no “Plano SP 2040”, avalia o diretor de comunicação do Movimento Defenda São Paulo, Sérgio Reze.

Por Suzana Vier*




A ONG faz parte do conselho consultivo que discute o plano – de iniciativa da administração municipal – e vê equívoco nos conceitos que foram escolhidos para nortear a São Paulo do futuro, como a noção de “cidade compacta”. Também há problemas na forma como a consulta à população foi realizada.

“O conceito de cidade compacta foi importado da Alemanha, mas de cidades muito menores, que não têm um milhão de habitantes”, disse Reze. “Mas querem colocar esse conceito em São Paulo, que já é espraiada. É totalmente diferente a necessidade.”

A ideia de cidade compacta foi incorporada à consulta pública que a prefeitura encerrou no final de 2011, por meio de questionário no site do SP2040. Segundo Reze, a administração de Gilberto Kassab (PSD) partiu de conceitos prontos e superficiais que não refletem as necessidades dos moradores de cada região da cidade. 

“Essa primeira etapa não propiciou discussão da base para cima, dos locais que as pessoas vivem para cima”, afirmou. “É muito genérico quando você pergunta se as pessoas querem chegar em 30 minutos em qualquer lugar, porque afinal todo mundo quer. Indagar se as pessoas querem uma cidade agradável, segura, todo mundo quer.”

Diante das respostas já esperadas da população à consulta, o ativista teme que o conceito de cidade compacta sirva “para legitimar o desejo do setor imobiliário de verticalizar cada vez mais São Paulo. Vai continuar o processo de saturação do meio ambiente inclusive urbano”.

De acordo com o site do projeto, o SP2040 discute um “plano de longo prazo que pretende orientar uma ampla transformação da cidade nas próximas décadas, apontando para formas de organização social, econômica, urbana e ambiental que assegurem o uso inteligente dos seus recursos e promovam melhores condições de vida para a população”. Entre outros planos para o futuro da cidade, “a São Paulo de 2040 deve se tornar uma base eficiente do ponto de vista territorial e funcional garantindo um bom desempenho urbano para exercer um papel decisivo na internacionalização da economia nacional”.

Ainda segundo a descrição do projeto, "os pesados investimentos necessários para atingir esses patamares terão sido realizados com base tanto na prioridade orçamentária quanto na capacidade de antecipar recursos por meio de parcerias público-privadas lastreadas na valorização dos ativos da cidade. Terá sido fundamental São Paulo assumir e intensificar sua vocação histórica de centro financeiro e de negócios constituindo-se em polo global de atração de investimentos e principal referência no hemisfério sul".

Sem horizonte

O ativista do Movimento Defenda São Paulo analisa que aumentar a verticalização de São Paulo sem resolver problemas de infraestrutura irá piorar a vida na cidade. “A gente não tem infraestrutura de saneamento, rede coletora de esgoto, transporte coletivo. Primeiro a prefeitura deveria resolver esses problemas para reorganizar posteriormente onde for possível", disse. "Quando você põe muitos prédios juntos cria ilhas de calor e efeito estufa, impede a dispersão de poluentes, cria problemas de ruído, diminui a capacidade de circulação do ar e onde tem muitos prédios concentrados não há linha de horizonte.”

Embora a discussão sobre o futuro de São Paulo seja muito bem vista, a ideia de tentar implantar uma cidade compacta, em uma que já é espraiada, pode significar novo impulso ao setor imobiliário. “Dentro do projeto SP2040 há viés de cidade compacta, apontando que será mal usado, para mais uma vez favorecer o setor imobiliário”, afirma.

Reze já vê traços de aplicação desse conceito na área central da capital paulista, onde a prefeitura tenta emplacar o projeto Nova Luz. A medida, que pretende revitalizar a região da Luz com privatização do bairro, enfrenta resistência de moradores e comerciantes da região. A intervenção prevê a reforma de 45 quarteirões com desapropriação de até 50% dos imóveis da região por empresa privada. Segundo lojistas, a privatização do bairro da Luz abre brechas para a privatização de outros bairros e submissão da população aos interesses da iniciativa privada.

“Não se pode usar o conceito da cidade compacta para pegar lugares da cidade onde tudo já está construído e as pessoas já vivem, para legitimar o que o setor imobiliário quer, como o que está ocorrendo na Nova Luz. A área precisa de uma requalificação, mas não destruir tudo para verticalizar intensamente”, disse Reze.

*Suzana Vier é jornalista.

Fonte: Rede Brasil Atual

Apud P. Vermelho

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