segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Porta a Porta: um documentário sobre a política nordestina


Estreou na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo o filme “Porta a porta: a política em dois tempos”. O documentário mostra como são feitas as campanhas eleitorais no interior do nordeste, para passar essa realidade, o diretor do filme, Marcelo Brennand abordou a campanha para prefeito e vereador em 2008 da cidade de Gravatá no estado do Pernambuco. Em conversa por telefone com a Caros Amigos, Brennand falou um pouco mais sobre o filme e a realidade política que ele presenciou em Gravatá.




Cartaz do documentário Porta a Porta/divulgação

É possível perceber o filme como uma projeção das campanhas eleitorais do resto do país, uma vez que muitas vezes as propostas dos candidatos são muito mais um espelho do que acontece no cenário nacional do que problemas locais. 

Dependência

Em cidades pequenas do nordeste, a prefeitura se torna um dos principais empregadores, além disso, as pessoas dependem muito da política para conseguirem suas necessidades, o diretor diz que “a necessidade básica da população tá muito próxima do político, eles dependem da política para conseguir remédio, ou ajuda para terminar de construir a casa própria”.

Diferentemente da política nacional, essas cidades não têm televisão local para que os candidatos façam suas campanhas, então eles criam um sistema de militância porta a porta, por isso o nome do filme. As campanhas acabam por empregar por volta de 10% da população municipal. A hierarquia partidária se divide basicamente em dois grupos, militância que vai de porta a porta angariando votos e o cabo eleitoral que são líderes comunitários de cada bairro.

Busca por emprego
Brennand analisa que enquanto os cabos eleitorais visam um emprego na prefeitura por sua proximidade com o candidato, o pessoal da militância aceita o emprego durante as eleições e apesar de terem pretensão a um cargo, a necessidade imediata de dinheiro é muito mais presente. Essa postura faz com que o debate acabe se esvaziando de ideias. “O próprio candidato não se candidata por uma ideologia ou proposta política, ele se candidata por uma salvação pessoal. Ele utiliza o discurso que ele vê na televisão que é melhorar a saúde e o emprego”.

Brennand explica que “o candidato se esforça para se eleger, porque após eleito eles vão sair de um cenário sem nenhuma perspectiva de emprego, para ganhar 4 ou 5 mil reais e ainda conseguir empregar algumas pessoas”. Apesar da inexistência de uma ideologia orgânica, e da repetição de discurso das pessoas que esses candidatos veem na televisão, o diretor não vê a postura como algo maquiavélico, “passo a analisar isso não só como oportunismo, mas também como uma salvação pessoal.”

ResultadosA ideia inicial de Marcelo Brennand era simplesmente de mostrar uma campanha política que não tinha a atenção da mídia, “o filme nasceu de um argumento espontâneo que foi acompanhar uma campanha política que fosse num cenário pouco explorado pela mídia”. Foi seguindo o candidato a vereador Fernando Resende que o diretor pretendia dar essa visão particular, entretanto, ao se sensibilizar com a mobilização que ocorre em Gravatá e como isso modifica a vida das pessoas, Brennand mudou o rumo do filme, usando Resende apenas como fio condutor da história e mostrando um panorama mais abrangente da disputa eleitoral, inclusive filmando o saldo do pleito e em que situação ficaram as pessoas que não conseguiram um emprego público trabalhando na militância.

Confira trailer do documentário Porta a Porta , a política em dois tempos




Fonte: Caros Amigos

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