Por ocasião da criação da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), no sábado (3), as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo, Farc-EP publicaram uma carta aos presidentes da república e primeiros-ministros dos países integrantes da Celac. Leia a íntegra do documento:
A transcendental reunião que celebram, com o propósito de dar nascimento formal à Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos, constitui um importante acontecimento.
Nós, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo, Farc-EP, os saudamos, exprimindo o nosso desejo de que este empreendimento se converta no ponto de partida de um esforço que encaminhe as nações latino-americanas e caribenhas à rota da unidade tendo em conta os aspectos fundamentais da concepção bolivariana.
Graves contingências ameaçam atualmente não só o futuro do nosso continente sofrido como também todo o planeta, a espécie humana no seu conjunto. A Terra exige-nos ações urgentes para impedir o desastre ambiental, sopram ventos de guerra nuclear, a economia mundial cambaleia e velhos interesses, no seu exclusivo benefício, impõem aos povos o encargo de salvá-la. Nunca como agora se requer tanto o protagonismo decisivo de toda essa humanidade silenciada.
Eis aqui o sentido significativo da unidade latino-americana e caribenha, empreender o caminho rumo ao novo mundo que o velho continente e o império estadunidense sempre nos vetaram.
Aproveitamos para exprimir nossa profunda preocupação pela paz na Colômbia, que é a paz do continente.
O traço característico da sua persistente classe dirigente foi uma estranha e atávica inclinação para solucionar os conflitos econômicos e sociais pela via das imposições violentas. Nenhuma das longas e cruéis ditaduras que no passado açoitaram diferentes nações neste continente provocaram um tão aterrador número de vítimas de toda ordem produzidas pelo regime colombiano apenas nas últimas duas décadas.
Isso explica as dimensões do atual conflito armado interno, cuja conclusão parece prorrogar-se indefinidamente no tempo. A paz nunca será fruto de rendições humilhantes que contribuam para manter ainda mais no poder os responsáveis desta tragédia nacional. Os insurgentes jamais mudarão para algo que permita que tudo continue igual.
Um diálogo com garantias plenas, frente ao país, ao continente e ao mundo, com participação popular, que modele uma recomposição institucional e política, e que abra as comportas a profundas reformas democráticas, é a fórmula que nós, as Farc, repetidamente temos colocado e que aspiramos a que se torne realidade muito em breve.
Acontecimentos recentes, contrários às piscadelas nos bastidores, revelam a inclinação nula dostablishment em considerar a nossa posição. Ao invés disso, insistem na sua pérfida acusação de sermos narcotraficantes e terroristas, pretexto que lhes assegura o apoio incondicional dos Estados Unidos, convertido além disso numa crescente ingerência militar e política, muito conveniente aos interesses estratégicos de dominação continental e mundial dessa potência.
Nas palavras do presidente Juan Manuel Santos, se não nos rendermos aguarda-nos o cárcere ou a sepultura. A sua oferta de recompensas de milhões de dólares pelas cabeças dos comandos guerrilheiros rejuvenesce os usos das coroas europeias contra os indígenas e escravos negros rebelados. Não cremos ser ousado pensar que nestes novos tempos que surgem na América Latina e no Caribe, os seus povos celebrariam como uma grande vitória a conquista de uma solução pacífica na Colômbia.
Nosso abraço patriótico e bolivariano para este verdadeiro Novo Mundo que grita basta e se põe a andar sem que ninguém já possa deter sua marcha de gigante.
Secretariado do Estado-Maior Central das FARC-EP
Montanhas da Colômbia, 1º de Dezembro de 2011
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