domingo, 22 de janeiro de 2012

Diderou: por onde anda o "diabo loiro"

Para quem acompanha as lutas livres apenas depois da criação do Ultimate Fighting, no final da década de 90, não deve se lembrar de Diderou Ribeiro. Ele foi um dos maiores lutadores do vale-tudo no Nordeste. Nascido em Campina Grande, nos anos 50, o ex-atleta começou nas artes marciais aos 10 anos de idade, praticando o jiu jitsu. Em seguida, passou para o judô e finalmente conheceu o mais popular estilo de luta. Depois de vários torneis nas capitais nordestinas, o paraibano veio a Natal participar de um campeonato. Isso, em meados dos anos 60. Se venceu sua luta por nocaute, Ribeiro foi vencido pela beleza da cidade do sol e acabou ficando na capital do Rio Grande do Norte, onde vive até hoje.

"Foi amor à primeira vista. Natal é uma cidade muito linda, onde as pessoas são simpáticas e tem um clima muito bom para quem é atleta. Juntei todos esses adjetivos e decidi que era melhor ficar morando por aqui. E foi o que fiz. E, hoje posso dizer que acabei tomando a decisão acertada. Tenho muitas lembranças da minha época como lutador, com o Palácio dos Esportes lotado, todo mundo torcendo, apoiando. Posso dizer que fui o fundador do vale-tudo aqui em Natal", orgulha-se Ribeiro.

Mas, quem ainda não se lembrou quem foi Diderou, basta se lembrar do folclórico "Diabo Loiro", como era conhecido na época em que lutava. "Isso foi uma ideia do meu empresário, em uma luta que fiz na Bahia. Para chamar a atenção do público, ele começou a me chamar do Diabo Loiro dos ringues. E acabou ficando. Acho que foi a primeira jogada de marketing no esporte, já que esse meu apelido sempre atraia curiosos aos ginásios, para saber quem era esse lutador, com um nome tão diferente", relembra.

Já consagrado e morando em Natal, Diderou Ribeiro participou de combates memoráveis no Palácio dos Esportes, nas décadas de 70 e 80, auge da luta livre na capital potiguar. Mas, foram dois adversários de fora do estado que fizeram os combates mais violentos com o Diabo Loiro. Um baiano e um pernambucano. "Naquela época, a gente só parava quando era obrigado ir para o hospital. Me lembro d um lutador da Bahia, que não me recordo o nome. Ele era muito alto, moreno e pesado. Devia ter uns 150 quilos. Era chamado de King Kong, pelo seu tamanho. Foi uma luta muito dura. Venci por nocaute, depois de quebrar as costelas dele. E teve outra luta, que foi a pior da minha carreira, contra Fidelão, de Pernambuco. Venci, mas queria ter perdido. Apanhei bem mais que ele. Acabou a luta e fui parar no hospital, de tão machucado que estava", diverte-se, lembrando dos duelos marcantes.

Rodrigo SenaA partir deste domingo, a TRIBUNA DO NORTE inicia uma série de matérias especiais com os Mestres do EsportesDiabo Louro, a fera dos ringues potiguares e do Nordeste.

Mesmo sem o peso do marketing e dos patrocínios que existe hoje em dia a favor dos lutadores, Diderou Ribeiro não se queixa da época em que era atleta. "Não tenho do que reclamar. Vivia bem, sempre em bons hotéis e meu empresário conseguia bons cachês para as minhas lutas. Lógico que hoje em dia, os atletas recebem muita mais do que na minha época, mas, tudo tem seu tempo", afirma.

Prestes a voltar ao ringue, dessa vez como treinador, o "Diabo Loiro" conta que não deixou de acompanhar os vale tudo, hoje em dia chamado de MMA (Mixed Martials Arts). E, de acordo com Ribeiro, os brasileiros são os melhores na categoria. "Os lutadores do Brasil são os mais técnicos do mundo. Vi a luta no último final de semana, e aquele lutador, José Aldo, provou isso. Ele estava agarrado nas grades, em uma posição ruim e, usando sua inteligência, conseguiu se livrar do adversário e aplicou uma joelhada no outro lutador, que foi a nocaute. Isso tudo em uma fração de segundos, o que mostra a superioridade dos nossos atletas", explicou.

Em toda sua carreira, Diderou Ribeiro contabiliza 98 lutas e, por incrível que pareça, sem nenhuma derrota. Foram apenas dois empates e 96 vitórias. "Quiseram tirar duas vitórias minhas, no roubo, mas não conseguiram. Por isso, fui desclassificado em duas lutas, mas nunca fui nocauteado ou derrotado. Por isso que sempre digo: o começo na luta livre é muito difícil e o lutador precisa iniciar com vitória, para ganhar moral e confiança. Depois, tudo acontece naturalmente", ensinou.

"Diabo Loiro" pensa em voltar como treinador

Mas, a vida de Diderou não foi sempre em cima dos ringues. Depois que se aposentou do vale tudo, no final da década de 80, ele decidiu continuar no esporte, ensinando os mais jovens suas técnicas de mais de 30 anos de luta livre. "O esporte é muito importante para as pessoas. Ele mantém as crianças longe das drogas e também forma o caráter das pessoas. Sinto pena porque envelheci. Senão, ainda estava em cima do ringue, lutando, treinando, me divertindo. Acima de tudo, o vale tudo, para mim, era um estilo de vida. Aproveitei o que tinha para aproveitar e agora quero voltar a ensinar os garotos", revela o "Diabo Loiro".

Nos últimos anos, o ex-lutador trabalhou em um circo que ele mesmo montou, chamada de Companhia GD, com vários tipos de atrações, como palhaço, lutas e até um leão. Mas, por motivos diversos, a lona do circo teve que ser recolhida. Agora, o local vai dar espaço para o retorno da academia Fera Mania, que fez sucesso nos anos 90, formando lutadores e com aulas de jiu jitsu. 

"Tem uma rapaziada aqui do bairro, que veio me pedir para voltar a treiná-los e estou pensando em ajudar esses jovens. Aqui em Natal tem grandes valores, que precisam de um incentivo, de treinamento. Nós temos lutadores que estão fazendo sucesso fora do Brasil e, se tudo der certo, vou conseguir treinar esses garotos para dar um futuro a eles. Tem um aqui na Cidade da Esperança, que é forte, pesa quase 120 quilos e e tenho certeza de que pode ser um ótimo lutador. Por isso estou pensando em retomar minha carreira como treinador, para ajudar esses jovens", afirma Diderou.

Atualmente "Diabo Loiro" vive só, em uma casa no bairro de Cidade da Esperança, zona oeste de Natal. Seus filhos entraram na vida das artes marciais, mas nenhum seguiu os passos do pai, um dos maiores lutadores de vale-tudo que o Nordeste brasileiro conheceu. E, Diderou deixa transparecer uma ponta de tristeza por nenhum dos filhos ter continuado com o seu legado em cima dos ringues. "Tenho dois filhos que treinam, mas só jiu jitsu. Um deles mora em Brasília e tem uma academia. Até queria que ele tivesse entrado no vale-tudo, mas, infelizmente isso não aconteceu", finalizou.

 Fonte: TNOnline

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