Na década de 1960, alguns garotos se encontram de modo quase improvisado e diário na esquina das ruas Divinópolis e Paraisópolis, no bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte. O tempo passa e eles se tornam artistas famosos e reconhecidos na música brasileira. Todos os identificam como membros do Clube da Esquina, expressão utilizada por Dona Maricota, mãe de dois dos garotos, Marcio e Lô Borges, que adota praticamente outro menino, Milton Nascimento, apelidado Bituca.
Outros participantes importantes são Beto Guedes, Fernando Brant, Wagner Tiso, Toninho Horta e Ronaldo Bastos. Todos eles acabam de virar personagens do livro em quadrinhos “Histórias do Clube da Esquina”, que conta com roteiro e desenhos de Lauro Ferreira e arte-final e cores de Omar Viñole.
A história em quadrinhos adota o modelo dos documentários em que os próprios participantes do movimento relatam o que aconteceu de modo intercalado com registros históricos. Outra característica interessante dessa produção é que, logo no início, ela posiciona aqueles artistas mineiros na linha evolutiva da música brasileira, contextualizando o que ocorria na mesma época.
Ou seja, os festivais de música popular da televisão, a Tropicália e a Jovem Guarda. Nesse sentido, um quadrinho em específico chama a atenção: uma repórter aparece perguntando a Milton Nascimento o que é mais importante para ele na vida e escutando como resposta: as pessoas e a música.
Claro que não dá para contar toda a história de um movimento musical e do trabalho artístico de tanta gente talentosa em menos de 50 páginas – menos do que uma revista em quadrinhos convencional. Por isso, os autores selecionaram algumas canções e alguns discos que consideravam mais representativos daquele momento.
Assim aparece a história da canção “Travessia”, que lançou Milton Nascimento; “Trem Azul”, de Lô Borges; “Para Lennon e McCartney”, de Lô Borges, Marcio Borges e Fernando Brant; e “Manoel, o Audaz”, de Toninho Horta e Fernando Brant, inspirado no jipe Land Rover 1951 do segundo compositor.
Não são esquecidos os discos “Clube da Esquina" 1 e 2, “Milagre dos Peixes”, que enfrentou muitos problemas com a censura federal; e “Txai”, baseado no contato de Milton Nascimento com os índios Ashaninka. Também merece registro a presença das saborosas histórias de Dona Olympia Angélica de Almeida Cotta, que ficou conhecida como “a primeira hippie do Brasil”, por sempre andar pelas ruas de Ouro Preto usando roupas coloridas, chapéus com muitas flores e portando um cajado com balas e bombons. E a visita do então presidente Juscelino Kubitscheck a Belo Horizonte, quando ele se encontrou com os jovens músicos.
No final, a história retorna para o presente, marcando o reencontro de todos os amigos do Clube da Esquina, cantando felizes “Clube da Esquina nº 2”: “Por que se chamava moço / Também se chamava estrada/ Viagem de ventania/ Nem lembra se olhou prá trás / Ao primeiro passo, o aço, o aço / Por que se chamavam homens/ Também se chamavam sonhos/ E sonhos não envelhecem”.
Portanto, confirmando a premissa do último verso da canção, “Histórias do Clube da Esquina” não se pretende uma obra definitiva sobre o movimento musical mineiro e justamente por isso é extremamente prazeroso, divertido e prende o leitor do primeiro ao último quadrinho.
Fonte: Rede Brasil Atual
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