Professores das escolas públicas de todo o Egito iniciaram uma greve geral dia 17 de setembro – quando começa o ano letivo no país – reivindicando, entre outros pontos, melhores salários, um plano de reforma do ensino, mais verbas para a Educação e o expurgo de funcionários envolvidos em corrupção.
Trata-se da primeira paralisação dos docentes egípcios em escala nacional desde 1951, quando o país ainda estava submetido ao regime colonial britânico.
“A greve é total nas províncias de Porto Said, Kafr El-Sheikh, Suez, Cairo do Sul, Sinai do Sul e Qina, e parcial no Cairo Central, Qaliubiya, Luxor, Beni Suef, Tanta, Gizé e Assuã”, informou Shaimaa Said, coordenador do comando de greve do Sindicato Independente dos Professores (ITS).
De acordo com o Centro Egípcio para Direitos Econômicos e Sociais (ECESR), mais de 60% dos professores cruzaram os braços; já para o Ministério da Educação, não mais que 2,6% das escolas estão em greve.
"Quando os professores viram que nossas reivindicações não receberam atenção nos últimos meses e se iniciaria o ano letivo, decidiram aderir. Se isso continuar, mais adesões devem ocorrer durante a semana”, declarou Ashraf Hefny, coordenador do ITS na província de Sinai do Norte.
O sindicato advertiu que a greve continuará por tempo indeterminado, até que o governo dê uma resposta satisfatória às suas demandas.
Entre as reivindicações se inclui a exoneração de funcionários corruptos do Ministério da Educação e da rede de ensino em geral. O ITS quer especificamente o afastamento do atual ministro da Educação, Ahmed Gamal al-Din Moussa, que, embora tenha assumido o cargo após a queda de Osni Mubarak, em fevereiro passado, “não tomou iniciativa alguma para levar o ensino a uma nova era”, afirmou Hefny.
O sindicato também exige um aumento na dotação orçamentária nacional para a Educação a 20%, contra os atuais 8%, assinalando que as verbas para o ensino têm diminuído nos últimos 20 anos. Em 1998, os recursos correspondiam a 10,8% do orçamento egípcio.
Além disso, o ITS está empenhado em combater o que considera corrupção institucionalizada, incluindo o desvio de verbas da Educação para a "segurança política". "Precisa acabar o desvio de parte do orçamento do ministério para financiar a força policial”, disse o coordenador sindical, ressaltando que essa prática foi mantida mesmo depois da saída de Mubarak.
O sindicato denuncia ainda numerosas ações corruptas envolvendo o Ministério da Educação, desde a falsificação de despesas em departamentos ministeriais à alocação de verbas em áreas desnecessárias.
Representantes do Ministério da Educação negam irregularidades. "Se as alegações do ITS são verídicas, então devem ser apresentadas ao Ministério Público", afirmou o chefe do setor de Ensino Público do ministério, Reda Mosaad, à emissora de TV Mehwar.
Em termos salariais, a reivindicação mais imediata dos professores é o reajuste do piso da categoria para 3 mil libras egípcias (cerca de R$ 918), junto ao pagamento de prometidas bonificações a todos os trabalhadores do setor público.
“Trabalho como professor há 28 anos, e ganho menos de mil libras por mês. O Ministério da Educação está abarrotado de consultores com salários altíssimos, enquanto os professores recebem quase nada. Não é justo que algumas pessoas ganhem 100 mil libras, enquanto os professores têm um salário tão pequeno”, disse um grevista na cidade de Fayyum.
O ministro da Educação indicou porém que o aumento dificilmente será conseguido. Numa entrevista ao jornal Rose al-Yousef na semana anterior à greve, Moussa disse que “não sou o Super-Homem para pedir um piso de 3 mil libras para os professores”.
Integrantes do ITS e de outras entidades de professores queixam-se de que os órgãos do governo estão tratando suas reivindicações como uma questão puramente financeira. "O ministro nos disse que nossas demandas têm de passar pelo Ministério das Finanças", comentou Ayman al-Beialyato, um dos porta-vozes do sindicato.
Os sindicalistas também deixaram claro que qualquer conquista financeira dos professores deve estar aliada a melhorias gerais nas condições e práticas de trabalho. Além dos baixos salários dos docentes, o ensino no Egito tem sido gravemente afetado pela precariedade das escolas públicas.
"Como os professores podem realizar seu trabalho com classes cujo tamanho varia entre 60 e 100 alunos, e ainda ter de conseguir alguma outra fonte de renda, como dar aulas particulares, apenas para pagar as contas no final do mês?”, ressaltou Iman Hafez, líder da Comissão de Professores de Gizé.
"Estes protestos estão muito relacionados a como restaurar a dignidade de vida dos docentes, permitindo-lhes ser melhores professores", acrescentou.
Fontes do comando de greve denunciaram que muitos professores estão sendo pressionados a retornar às aulas, recebendo ameaças de serem submetidos a inquéritos administrativos – o que poderia levar a demissões.
O presidente do ITS, Hassan Ahmed Ali, relatou ao jornal Al-Masry Al-Youm que funcionários do ministério estão percorrendo as escolas paralisadas, tentando dissuadir os professores de prosseguir o movimento e instruindo os diretores a punir os grevistas com sanções arbitrárias. “Também foram enviados agentes de segurança para tentar intimidar os professores”, advertiu Ali.
Fonte: almasryalyoum.com
Tradução: Dilair Aguiar
Apud Portal Vermelho
0 comentários:
Postar um comentário